segunda-feira, 22 de março de 2010

EU

EU
Neste todo de rituais.
A iguais finais.
Por caminhos de alegria e tristeza.
Resta ao meu eu. Esta certeza!
A Alma. Reabre sempre uma aurora de felicidade.
Um raiar de paz e suavidade.
Mesmo quando a dor. Fere de solidão o coração.
A Alma. Angelicamente, canta a sua espiritual oração.
Tentando camuflar a tristeza, do eu, que a comporta.
Enquanto indica o rumo, a uma nova porta.
A Alma. Sou o eu, que ainda desconheço.
A celestial aurora, com quem sempre amanheço.
E assim, julgo ser eu?
A forma que alguém me deu.
Se é que, consigo discernir? Entre o teu, e o meu?
Neste caminho aos Céus?
Ou findar, fundido nas profundezas dos terrenos breus.
No meio de crentes e ateus.
E de mais, que nem riem nem choram.
Porque a vida ignoram.
Eus, que a vida não chamam.
Eus, que não crescem, porque não amam.
Neste mundo de incompreendidos.
Mas todos à vida nascidos.
Na mesma demanda de vencer, sempre o conseguido.
Guindar ao além do anteriormente erguido.
Desvendar os mistérios.
Que restam para além dos cemitérios.
Na ânsia de cruzar as fronteiras.
Das cósmicas fogueiras.
Que dão a vida e a morte.
E nos sustentam o norte.
Em forças de invisíveis filamentos.
E sincronizados movimentos.
Gerados por criativos pensamentos.
Ou sem definidos fundamentos.
A força de um vazio em retracção?
Fez solidificar o silencio do nada em contracção.
Em elementos que, em continuada explosão, se vão expandindo.
E pelo nada, não mais vazio. Caindo.
Até que, a força de magnéticos laços.
Os anime em seus cósmicos abraços.
A movimentos com o todo sincronizados.
Mas ao nada criados.
Tempo e espaço, com a força do todo conciliados.
Fogo e gelo, pelo todo instrumentalizam.
E a sua força prodigalizam.
Sonhos?
Ou resquícios? Do meu eu, por antigos caminhos?
O meu eu, em pensamentos.
Ainda sem humanos discernimentos.
A que vêem tantos véus?
Neste falar de bons e réus.
Árvore que geraste o castigo.
Fruto que por séculos e séculos mastigo.
Sem que, à sombra da árvore, me tenha deitado contigo.
Mas continuo pelos séculos fora, ao castigo acorrentado.
E à terrena vida limitado.
Eu, em punição sem perdão.
Árvore a sofrido umbilical cordão.
Ainda sem mentira nem verdade.
Neste correr sem piedade.
Por quem somente é filho da desdita.
Daquela mão expedita.
Que na ânsia da igualdade.
Cometeu imperdoável maldade.
Matéria e espírito.
Em constante atrito.
Força o meu grito.
Que clama por mais pertencer.
Ao todo, que todos, teremos que vencer.
E assim, inquirindo, viajo na vida que me legaram.
Os eus, que primeiro aqui chegaram.
Esquecidos das moradas antecedentes.
Sem memórias de amigos e seus parentes.
E sem nada, que ao todo os ligassem.
Nem um Deus que amassem.
Ou conhecimento que abraçassem.
Eus, perdidos, no terreno mundo.
A navegar no azul profundo.
Universal novo elemento.
Que sem qualquer mandamento.
Começaram num vazio de emoções.
As humanas relações.
E sem instrumentos.
Às alturas, construíram alguns monumentos.
Ainda num vazio de sentimentos.
Eus, que depois do todo perdido.
Vagueiam pelo pântano concedido.
Com medo dos horizontes.
E das sombras dos montes.
Eus desnudos. Sem roupas nem preconceitos.
Eus, que ao cansaço, constróem leitos.
E no aconchego do calor, fecundam o acasalamento.
Dando vida a mais um eu, sujeito ao mesmo pungimento.
Eus, de mão sempre estendida. Na força da humana ambição.
Neste castigo de continuada perdição.
Eus sem mãos.
Aos seus humanos irmãos.
Eus, que pela vida os seus infortúnios vão sangrando.
Mas ao todo, os caminhos alegrando.
Nos passos orvalhados que vamos deixando.
Uma nova vida vamos ensinando.
Eduardo Dinis Henriques

Sem comentários:

Enviar um comentário